sexta-feira, 13 de abril de 2012

Parto Natural, Parto Domiciliar, Cama Compartilhada, Amamentação em Livre demanda, Vegetarianismo...Por que será que as nossas escolhas incomodam tanta gente?

Segue trecho do livro “Besame Mucho”, do pediatra catalão Carlos González e, em seguida, minha reflexão sobre o tema.

"A nossa sociedade, tão compreensiva noutros aspectos, é-o muito pouco em relação às crianças e às mães. Estes tabus modernos poderiam ser classificados em três grandes grupos:
- Relacionados com o choro: é proibido dar atenção a crianças que choram, pegar-Ihes ao colo, dar-Ihes aquilo que querem.
- Relacionados com o sono: é proibido adormecer as crianças ao colo ou a mamar, cantar ou embalá-Ias para que adormeçam e dormir com elas.
- Relacionados com a amamentação materna: é proibido amamentar a qualquer momento, em qualquer lugar; ou fazê-Io a uma criança demasiado crescida.
Quase todos eles têm uma coisa em comum: proíbem o contacto físico entre mãe e filho. Por outro lado, gozam de grande estima todas as atividades que tendem a diminuir o referido contato físico e aumentar a distância entre mãe e filho:
- Deixá-Io sozinho no seu quarto.
- Transportá-Io num carrinho ou numa dessas incómodas cadeiras de plástico.
- Colocá-Io num berçário o mais cedo possível ou deixá-Io com uma avó ou, de preferência, com uma babá (as avós tornam os netos mal-educados!).
- Inscrevê-Io em colônias e acampamentos cedo e durante o maior período de tempo possível.
- Ter espaços de intimidade para os pais, sair sem as crianças, fazer vida de casal.

Ainda que algumas pessoas tentem justificar estas recomendações dizendo que permitem que a mãe descanse, a verdade é que nunca proíbem nada de cansativo. Ninguém lhe diz “Não limpe tanto, que ganha o mau hábito de ter a casa limpa”, ou “Quando for à tropa, terá de ir atrás para lhe lavar a roupa”. Na verdade, o proibido parece ser a parte mais agradável da maternidade: adormecê-Io ao colo, cantar-lhe, desfrutar da sua companhia. Talvez seja por isso que criar os filhos se afigure tão difícil para algumas mães. Há menos trabalho que antigamente (água corrente, máquina de lavar, fraldas descartáveis), mas também há menos compensações. Numa situação normal, quando a mãe desfruta da liberdade de cuidar do filho como acha conveniente, o bebé chora pouco e, quando chora, a mãe sente pena e compaixão “Coitado, o que é que ele terá?”. Mas quando a proibiram de lhe pegar ao colo e dormir com ele, amamentá-Io ou consolá-Io, a criança chora mais e a mãe vive esse choro com impotência e, a longo prazo, com raiva e hostilidade “E agora, que Diabo lhe mordeu?”.
Todos estes tabus e preconceitos fazem as crianças chorar e também não fazem os pais felizes. A quem satisfazem então? Talvez a alguns pediatras, psicólogos, educadores e vizinhos que os defendem? Eles não têm o direito de lhe dar ordens, de lhe dizer como deve viver a sua vida e tratar o seu filho. Demasiadas famílias sacrificaram a sua própria felicidade e a dos seus filhos no altar de preconceitos sem fundamento.”

Carlos Gonzalez é uma das minhas leituras obrigatórias. Amo. E relendo este trecho do livro “Besame mucho” fico pensando em como essas coisas incomodam a sociedade. O fato de Catarina só comer orgânicos, não comer carne nem doces e nem frituras, dormir conosco e mamar no peito causa espanto e muitas vezes indignação a muita gente. Ora, a OMS e o Ministério da saúde recomendam que não se ofereça doces e frituras a crianças pelo menos até os dois anos de idade. Pelo menos. A cama compartilhada é algo que nitidamente deixa as crianças mais felizes, calmas e tranquilas e é amplamente condenada pela sociedade. Porque as crianças vão ficar mal-acostumadas. Mal-acostumadas? Em ter o carinho dos pais? E é problema de quem se minha filha dorme na miha cama? Só meu. Não consigo entender porque as pessoas se indignam tanto com isso. Ela dormirá em nossa cama até quando considerarmos que é saudável e importante para nós três. E ponto. Não condeno mães de crianças que dormem em berços, em outro quarto, que deixam chorar até dormir, que não amamentam por simplesmente não querer. Cada mãe sabe o que funciona melhor para seu filho. Cada mãe busca a informação que combina mais consigo mesma. Só não gosto de ser condenada por minhas escolhas, que, como toda mãe, acredito serem as melhores para minha filha. Porque se ofender com comportamentos adotados por outras pessoas? A sociedade é muito cruel com aqueles que adotam posturas fora do padrão estabelecido por sei lá quem e difundido pela mídia. Cada um escolhe o caminho de vida que quer seguir. Outro ponto que tem me incomodado bastante é a amamentação. A orientação da OMS e Ministério da saúde é que a criança seja amamentada PELO MENOS até 2 anos de idade. Catarina tem 1 ano e 2 meses. Mama em livre demanda. Quando quer e quanto quer. Não usa mamadeira e nunca usou chupeta. O único leite que toma é o meu. Dorme no peito. E é muito feliz com isso e eu também. Mas a sociedade… Alguns dizem “Nossa, que ótimo que ela ainda mama!”, enquanto outros dizem “Nossa, ela AINDA mama??????”. É duro. Eu não tenho mais paciência para dar muitas explicações. Sim, ela mama e vai desmamar sozinha, quando não for mais necessário para ela. Sim, ela dorme comigo e assim será até quando acharmos bom para nós três. Sim, ela não come carne, nem doces, nem frituras. Sim, ela é muito saudável. Não toma Ad-Til e nem suplementa ferro. E tem a melhor pediatra do mundo, competentíssima e humanizada. Sim, ela é atendida em todas as suas necessidades emocionais. Sempre que nos solicita recebe amor e atenção, o que faz com que confie em nós. Confia porque sabe que quando precisar estaremos lá. E somos muito felizes com isso. E ela também. Fazemos um investimento a longo prazo. Acreditamos que amor e atenção geram segurança e independência. Acreditamos nos nossos instintos e tenho certeza de que colheremos excelentes frutos no futuro. Na verdade já estamos colhendo os frutos de nossas escolhas. E posso dizer que é maravilhoso acreditar que suas escolhas são as melhores e depois ter certeza disso. 
Cada mãe deve acreditar nas suas escolhas. Este post - e qualquer outro que publico - é simplesmente fruto da minha vontade de compartilhar o sucesso das minhas escolhas para minha filha. Não é para ofender ou atingir alguém. Acredito que toda mãe busca acertar. Só que cada uma escolhe um caminho. Eu respeito isso e sigo o meu, aquele que acredito. E desejo compartilhar para que aquelas que ainda estão em busca de um caminho possam ler e pensar a respeito, sempre analisando aquilo que melhor se ajusta aos seus conceitos. Sempre é tempo de mudar se o que escolhemos não mais atende nossas necessidades.Acima de tudo temos que ser felizes com nossas escolhas e acreditar e confiar nelas.