quinta-feira, 9 de junho de 2011

Relato de parto - Priscila e Catarina - 29/01/2011


39 semanas
A história começa antes da gestação. Navegando pelo site da querida Denize Barros, que fabrica e vende as bolsas La Reina Madre, fui atraída pelas indicações das Bacanices, links para sites que ela também curte. Encontrei então o site da Primaluz – Parteiras Contemporâneas. Lá chegando, comecei a ler os relatos de parto, ver os vídeos e me encantar com o mundo do parto humanizado e mais ainda com a possibilidade do parto domiciliar. Entrei em diversas listas de discussão, me informei muito e li muito a respeito. Comentei com meu marido a respeito do parto domiciliar e sua resposta inicial foi negativa. Aos poucos fui mostrando a ele vídeos de partos naturais, relatos e estudos. Em pouco tempo ele estava convencido. Logo no mês seguinte, o primeiro mês que realmente “tentamos”, eu engravidei. Eu não tinha um obstetra de confiança, estava indo em um médico do convênio, mas já sabia da sua fama de cesarista, pois ele era especialista em fertilização. Na quinta semana de gestação, logo que descobri a gravidez, marquei uma consulta com a Márcia Koiffman, na Casa Moara, para conhecer o trabalho da Primaluz e tirar todas as dúvidas sobre tipos de parto. Meu marido ainda tinha muitas dúvidas em relação ao parto domiciliar, por pura falta de informação. Após esta consulta com a Márcia, saímos decididos pelo parto domiciliar, só não sabíamos ainda como comporíamos a equipe. Era uma quarta-feira, dia de encontro de gestantes na Casa Moara, e decidimos ficar e participar.  E a partir daí, minhas quartas-feiras à noite já estavam todas comprometidas. A cada dia era uma aula, uma consulta cheia de informações, um mundo de conhecimentos. Muitos encontros contavam com a participação das parteiras Márcia Koiffman e Priscila Colacioppo, do médico-parteiro Dr. Jorge Kuhn, além das doulas que ajudam a coordenar e convidados brilhantes que vinham esclarecer muitas dúvidas. Um curso completo sobre parto humanizado, cuidados com o bebê e amamentação.
Katia fazendo massagens para alívio da dor
Durante toda a gestação, tivemos a certeza do parto domiciliar. Apoio da família, da maior parte dos amigos e plena consciência da nossa decisão. Nossa bebê cresceu saudável, fiz o pré-natal todo com a Márcia Koiffman, fiz yoga para gestantes, watsu, natação até 2 dias antes do nascimento, caminhadas, engordei pouquíssimo, enfim, cuidei para que tudo corresse normalmente e da melhor forma possível. No dia 21 de dezembro fiz uma única consulta com o médico que havia escolhido para ser meu plano B, o Dr. José Vicente Kosmiskas. Gostei dele, a consulta demorou uns 40 minutos, fui muito bem atendida. Mas essa era a minha única certeza do plano B. Não pensei em pediatra, anestesista, enfim, em mais ninguém da equipe médica, caso fosse necessário. Nunca acreditei que eu precisaria ir para o hospital. Minha gestação estava ótima e eu tinha certeza do parto domiciliar. Pensei que, caso precisasse do plano B, optaria mesmo pelo pediatra plantonista e anestesista idem, pois não tínhamos dinheiro e o JV não atendia nosso convênio, ou seja, já teria que pagar o G.O. No final da gestação, uma pequena chatice: o exame de strepto apontou positivo, mas consegui reverter com a terapia do alho durante 8 noites.
Katia massageando e aplicando Reiki para desinchar
No dia 27 de janeiro, uma quinta-feira, tivemos consulta de rotina com a Márcia, que constatou que estava tudo bem e decidimos adotar a DPP da D.U.M., já que a DPP do 1º US já havia passado (era dia 25). Eu perguntei a ela se ia fazer exame de toque e ela me disse que não precisava, já que resolvemos adotar a data da D.U.M., pois eu poderia estar sem dilatação e acabar me estressando com isso. Se precisasse, faríamos na semana seguinte. Saí de lá com alguns pedidos de exames para a próxima semana e confesso que um pouco tensa com tudo o que precisaria fazer caso ela chegasse nas 42 semanas. Fomos fazer umas compras no Leroy Merlin, alguns detalhes que faltavam para o parto e para a casa. Nessa mesma noite, senti umas pequenas cólicas e um pouco de dor nas pernas e achamos que é porque tínhamos andado muito depois da consulta, comprando as ultimas coisinhas. Durante a madrugada toda senti contrações quase indolores, porém incômodas, na barriga. Entretanto, às 6 da manhã elas começaram a vir como cólicas e achei melhor ir tomar um banho pra ver se passava. Tomei um longo banho e durante este senti cerca de 4 contrações. Me vesti e fui comer alguma coisa. Como as cólicas não paravam, resolvi começar a contar às 7:30 da manhã. Contei por duas horas, estavam bem irregulares, cerca de 9 contrações por hora. Liguei para a Márcia e avisei. Ela me explicou que era mesmo trabalho de parto mas estava bem no comecinho, que ia engrenar quando eu conseguisse contar a partir de 14 contrações por hora.
Márcia ouvindo batimentos da bebê
Ficamos então, eu e meu marido, nos divertindo com o programa Contraction Master, cronometrando cada contração que vinha. Entrei em contato com a Katia Barga, que seria minha doula e com a Denize Barros, minha doula-amiga. Como eu estava lidando bem com as contrações, disse a elas que não precisavam vir cedo, poderiam vir só no fim da tarde. Elas continuaram me ligando algumas vezes durante o dia, para ter certeza de que estava tudo bem. Após o almoço o meu marido foi levar nossa cachorra weimaraner para a casa de minha mãe. Por volta de 16:30h chegou a Denize.  Conversamos bastante, ela me fazia algumas massagens, mas a coisa ainda estava light. Um pouco depois chegou a Kátia, com um delicioso pão fresquinho preparado por ela. Fomos então tomar um ótimo café da tarde, eu, Rodrigo, Katia e Denize. 


Marcia ouvindo batimentos durante contração e
Kátia ajudando com massagens
Quando vinha a contração eu ia pra bola, alguém me ajudava e pronto. Voltava pra mesa, comia mais um pouco até a próxima contração. Márcia sempre ligava pra saber a quantas andava o TP. As contrações começaram a ficar mais intensas, eu comecei a sentir uma dor que descia pela lombar e irradiava para as pernas, terrível. A única coisa que me ajudava era ficar pendurada no Rodrigo enquanto alguém massageava minha lombar e meu quadril. Essa dor durava cerca de três ou quatro minutos. As contrações começaram a ficar sem intervalos, com essa dor insuportável, por volta de 21:30h. Katia falou com a Marcia e ela veio para a minha casa, chegando cerca de 23:00. Quando ela chegou, observou as contrações, monitorou a bebê, viu que estava tudo bem e me disse que precisava fazer um exame de toque, mas que ainda poderíamos esperar um pouquinho. Eu estava bastante relutante com relação a esse exame, pois tinham me falado que era horrível e doía muito. Enfim resolvi fazer. O exame é feito fora da contração e durante a contração. Eu estava com quatro centímetros ainda, mas a Márcia fez uma manobra onde eu fazia força na contração e rapidamente evoluí para 6 centímetros. Fiquei muito feliz com isso e o exame nem foi tão horrível assim. 
Marcia ouvindo batimentos da bebê
As dores começaram a piorar, eu tinha muita dificuldade de me sentar na bola, não conseguia deitar e nem me acocorar, pois a dor que irradiava para minha perna era muito intensa. Só conseguia ficar dependurada no Rodrigo ou então debaixo do chuveiro, em pé, apoiada na parede. Primeiro Márcia e depois Kátia me faziam massagens na lombar e nas pernas enquanto eu estava no chuveiro. Eu queria muito entrar na banheira. As meninas então arrumaram a sala e montaram a banheira. Mas a Márcia me disse que gostaria que eu esperasse a Pri chegar, pois faríamos uma acupuntura e aí então eu entraria na água. Esperei, sei que não foi muito, mas pareceu uma eternidade, por causa da dor nas costas e pernas.  Quando a Pri chegou fizemos a acupuntura e também moxabustão e depois de alguns momentos ela me diz: “Parabéns, você está na fase ativa!” Eram cerca de 4:30 da manhã. Eu estava com 7,5 cm. Apesar de ter entrado na fase ativa, as contrações não ritmavam, mas vinham muito mais doloridas. Pedi para entrar na banheira. De imediato, a sensação foi ótima. Entretanto, as contrações começaram a espaçar cada vez mais. 
Aguardando anestesia para tentativa de PNH
Cada vez que vinha uma era uma dor incrível que eu tentava aliviar segurando na mão do meu marido e da Kátia, ou do meu marido e da Denize.  Pedia pra elas jogarem água nas partes do meu corpo que ainda estavam fora d’água. Tentava relaxar colocando a cabeça na água, boiando um pouco, mas, ao mesmo tempo, ia ficando cada vez mais nervosa pela parada de progressão do TP. Elas queriam que eu ficasse na água pra relaxar e descansar, mas eu não conseguia pois só pensava que ficar ali tinha interrompido meu TP. Depois de um tempo, a Pri veio me examinar e a Márcia veio ver a bebê. Tudo bem com ela e eu estava com 8 cm. Decidimos sair da piscina e tentar mais um pouco de acupuntura e moxabustão. Após isto, resolvi deitar junto com meu marido, pois meu grau de exaustão era tal que não me permitia mais ficar em pé. Tudo doía o tempo todo, eu não identificava mais intervalos entre as contrações. Pedi uma bolsa de água quente para o meu marido e a Kátia rapidamente providenciou uma. Ela segurava a bolsa aonde a dor era pior e ele me abraçava (eu estava deitada).  Márcia veio até o quarto e comentei que estava sentindo uns puxos. Ela me disse que quando eu sentisse vontade de fazer força era pra fazer, que isso faria com que a dor passasse pois eu estava na fase de transição. Eu fazia muita força. A cada contração. E comecei a sentir algo diferente quando fazia força. Chamei a Márcia e ela trouxe o banquinho de cócoras. Depois de alguns puxos, a Pri me examinou para ver se era a cabecinha da bebê e pra ver qual era a dilatação. E, depois de tantas horas ela me disse: “8 cm.” E então eu chorei. Muito. 
Com José Vicente Kosmiskas e
anestesista, esperando TP engrenar
Não entendia como depois de tanto tempo, tanta dor, não tinha dilatado mais nada. 8 cm, bebê alta, a -2cm da bacia, e não descia. Bolsa íntegra. Parada nítida de progressão. As contrações começaram a ficar cada vez mais espaçadas. Eu chorava de dor e tristeza com medo de ter que tomar a decisão que eu não queria. Lembro-me que, depois que eu me acalmei disse para a Kátia: “É nessa hora que as parturientes pedem cesária, né? Mas eu não vou pedir.” Márcia e Pri conversaram então comigo sobre as possibilidades que tínhamos em casa e no hospital. Eu queria tentar tudo o que fosse possível em casa. Comecei a cogitar a possibilidade de ir para o hospital. Pensei nisso por muitas horas, talvez umas 5 horas. Eu não queria tomar essa decisão. Pri e Márcia me explicavam o que aconteceria quando chegássemos no hospital, que eu tomaria analgesia e ocitocina e aí provavelmente o TP iria engrenar. Estava tudo bem com a bebê, então eu pensei nisso por muito tempo. Fizemos mais acupuntura e moxa, e a Pri colocou uma agulha no “terceiro olho” que me fez relaxar e cochilar um pouco. Quando acordei, senti que realmente não dava mais. Eu estava muito fraca, meu útero não tinha mais força para se contrair. As contrações estavam espaçadas demais. Meu trabalho de parto estava praticamente parado. Chamei as meninas, e chorando muito pedi para verem se a pediatra que eu queria (Dra Sandra Regina de Souza - pediatra neonatologista) podia ir atender meu parto. Ligaram para o médico do meu plano B. Reservaram o Hospital São Luiz, a delivery 2, resolveram absolutamente TUDO para mim, enquanto eu estava deitada, tentando parar de chorar e descansar. Ninguém contestou minha decisão e nem me disse “Mas não era isso que você queria, você quer parir em casa”, como já li em muitos relatos. Então eu soube que aquela decisão de transferência para o hospital não era só minha. Era minha, das parteiras, do meu marido e da doula. Não era mais possível um parto domiciliar. E fomos. Pri e Marcia cada uma com seu carro. E eu, tentando me manter em pé até a garagem por causa das contrações. Entrar no carro foi um martírio, fui acocorada no banco de trás, Katia foi comigo, me massageando sempre que vinha a contração e Rodrigo foi dirigindo. Ao chegar no São Luiz, passamos pela admissão, eu mal consegui assinar o papel da internação. 
Iniciando a cesárea
Esperei a Márcia chegar para entrar na sala onde recebem as gestantes, pois não aceitaria que ninguém colocasse a mão em mim naquele momento. Assim que a Márcia chegou entramos na sala e me colocaram o cardiotoco em pé mesmo, pois eu não tinha a menor condição de deitar. O cardiotoco estava ótimo e fiquei algum tempo esperando a aprovação do convênio, tempo este que pareceu uma eternidade. A cada contração a Márcia me ajudava com a insuportável dor no ciático que insistia em não me abandonar. E quando a enfermeira que me colocou o cardiotoco estava na sala, ela também me massageava. Finalmente fomos liberadas para ir para a delivery 2. Me ofereceram cadeira de rodas, que eu rejeitei, é claro. Fui andando até o elevador, parando a cada contração para respirar e para que a Márcia me massageasse. Claro que o hospital inteiro me olhava, como se eu fosse um E.T. Ao chegar na delivery 2, a Pri já estava lá e a Kátia já tinha enchido a banheira para mim. Entrei imediatamente na água, para aliviar a dor. A dor física, pois a do coração não tinha como. Eu não queria estar lá e só chorava. Meu marido chegou, com a indumentária apropriada e eu quase não o reconheci. Lembro dele falar: “Vamos tirar uma foto?” e eu pensar: “Por que esse médico quer tirar foto comigo??” Mas a “ficha” caiu logo... rsrsrs Pouco depois chegou o José Vicente, me cumprimentou e disse que logo iríamos fazer uma analgesia leve. Quando a anestesista chegou, saí da banheira. Ela me aplicou um pouco de raqui (faríamos o duplo bloqueio, analgesia adequada para o parto normal, sem que eu perdesse o movimento das pernas) e a dor foi aliviando. Me pediram para sentar na cama para colocar o cateter da peridural. Ao sentar na cama senti uma dor de cabeça horrível e tive que me deitar. Demorou, mas a dor passou e aí a anestesista tentou colocar o cateter e não conseguiu. Resolvemos deixar para colocar um pouco mais tarde. Colocaram ocitocina e eu fiquei ali deitada, aguardando que as contrações se intensificassem e engrenassem. Neste momento eu sentia apenas uma coliquinha. O médico e a anestesista foram tomar café e eu fiquei sozinha na sala, com meu marido. Pedi que ele pegasse meu celular e liguei para a Márcia, pedindo que viesse conversar comigo em particular. Ela e Pri vieram. Eu estava assustada com o tal cateter da peridural, com medo de uma cesárea desnecessária, e elas me tranquilizaram muito, dizendo que ninguém faria nada que não fosse absolutamente necessário. Ah, como é bom confiar na nossa equipe! Me acalmei e elas deram uma saída da sala. 
Catarina em meu colo assim que foi retirada da barriga
O médico voltou. Depois de quase três horas na ocitocina, nada de as contrações engrenarem, bebê alta, colo com 8 cm de dilatação. Nenhuma mudança no quadro. O médico me sugeriu que rompêssemos a bolsa. Eu topei, pois queria muito que o TP engrenasse. Ao romper a bolsa, ele se deparou com pouquíssimo líquido e muito mecônio espesso e particulado. Parecia uma pasta que sujava minha perna. Ele se desesperou e imediatamente chamou a enfermeira, indicando que elas iam me preparar para a cesária, pois com tanto mecônio e todo o quadro que havia se formado já não havia mais o que fazer. Tínhamos que desligar a ocitocina imediatamente para que a bebê não corresse o risco de entrar em sofrimento fetal e nem aspirasse o mecônio. Comecei a chorar profundamente. E exigi a presença da Márcia, disse que não iria a lugar nenhum sem a confirmação do diagnóstico por ela. A Kátia chamou e a Márcia me examinou. E veio a confirmação. Não dava pra arriscar. TP sem evolução há 13 horas. Bebê a -2cm da bacia há 13 horas. Não podíamos mais ligar a ocitocina. A bebê estava ótima, mas agora o risco era iminente. Ela poderia aspirar essa papa de mecônio a qualquer momento. Lembro-me perfeitamente de dizer à Márcia que estava tudo parecendo um pesadelo. Não era possível tanta frustração em tão pouco tempo. Fui levada então para o Centro Cirurgico. Márcia, Kátia e Priscila comigo o tempo TODO. Cada procedimento que era feito em mim na preparação para a cirurgia me era explicado pela Márcia. Depois que me prepararam chamaram o Rodrigo. Ele ficou de mãos dadas comigo a cesárea inteira. E, segurando minha outra mão, estava a Márcia. Eu só chorava. Não queria estar ali, foi muita frustração junta: não conseguir o domiciliar, ter que tomar a decisão de ir para o hospital e ainda por cima encarar uma cesárea. 
Pezinhos da Catarina no braço do papai
Enfim, começou a cirurgia. Rapidíssima. O médico começou um pouco antes da pediatra chegar e teve que esperar para cortar a última camada, pois exigimos que a pediatra fosse a Dra. Sandra. Assim que ela entrou na sala ele cortou a última camada e retiraram a nenê, que não chorou imediatamente, mas nesse segundo a Márcia me assegurou que ela estava ótima. Escutei a Dra. Sandra dizer: “Não é nada, ela só está sujinha”. E tive certeza de que se fosse o plantonista ia levá-la para a UTI, por causa do mecônio. Após alguns segundos ela chorou e a Dra. Sandra passou a bebê por baixo do campo e colocou em meu colo. Pude tocá-la e ficar com ela por alguns momentos. Depois ela levou a bebê para limpá-la e enrolá-la para que não perdesse calor. Carimbaram os pezinhos dela e com a tinta que sobrou carimbaram o braço do Rodrigo com os pezinhos dela. Logo depois ela estava em meu colo tentando mamar. E em meu colo ficou por mais de uma hora. Seu apgar? 9 e 10. Eu não fui para a recuperação, fiquei ali mesmo, com minha bebê, meu marido, minhas parteiras, minha doula e a pediatra. A equipe dos meus sonhos, perfeita, coesa, que eu escolhi com tanto cuidado, que me acompanharia em casa e não saiu do meu lado no hospital. Não esquecerei o abraço emocionado da Pri, que teve que ir embora antes de Márcia e Kátia. Vieram então levar a bebê para o berçário central, procedimento padrão do São Luís. Fui então levada para o quarto e logo a bebê chegou e a meu lado ficou até o dia de minha saída. Logo que subi vieram Márcia e Kátia se despedir depois de um trabalho tão árduo. Foram 36 horas em trabalho de parto. Todo este tempo amparada pela equipe mais incrível que eu poderia ter. E foi a confiança nesta equipe e no meu marido que me fez ter forças para lidar com toda a situação inesperada que aconteceu. Estar cercada de amigos e não apenas de profissionais foi essencial. Porque foi isso que elas se tornaram ao longo da minha gestação. Pessoas em quem eu confiei e confio 100%. AMIGAS, com todas as letras maiúsculas.
Bebê voltou pro colo após pesagem
Numa das visitas, Dra. Sandra nos mostrou que Catarina havia nascido com o freio da língua curto, o que poderia se resolver sozinho ou necessitar de um pequeno corte, teríamos que esperar mais um pouco para ver. Tive um problema adicional, pois a anestesista errou o lugar para aplicar a peridural e houve vazamento de líquor, o que me deixou com uma pressão e dor terrível na cabeça no dia seguinte ao parto. Foi necessário fazer um procedimento chamado “blood patch”, que é um tamponamento do vazamento com o próprio sangue da paciente. Melhorei, mas não completamente. Na segunda não estava muito bem, deixamos a alta para terça. E na terça-feira, quando o médico veio cedinho me dar alta, eu estava novamente com a tal pressão e dor, mais forte do que antes. Suspenderam a alta. Recebi visita dos três anestesistas da equipe, que finalmente me explicaram o que havia acontecido e decidiram que seria necessário fazer um novo “blood patch” na quarta-feira de manhã. Fui para o procedimento em jejum, e desta vez o anestesista chefe da equipe havia conseguido uma agulha de menor calibre e o procedimento finalmente foi um sucesso. A pressão melhorou, mas demorou alguns dias para sumir completamente. Saí do hospital no período da tarde, depois de 5 dias, tomando corticoide, antibiótico, antiinflamatório, relaxante muscular, enfim, tudo o que é remédio que se pode imaginar. E amamentando. Meu leite demorou mais uns 2 dias para descer completamente. E quando chegamos na consulta de 7 dias da bebê, ela havia perdido mais de 10% do seu peso e continuava perdendo. Fomos orientados a entrar com complemento para que não corrêssemos o risco de desidratação ou desnutrição. Foi um baque. Logo eu, que fazia questão de amamentar exclusivamente. Na verdade foi MAIS UMA frustração. 
Catarina, mamãe e papai
Aos 27 anos operei um câncer na mama esquerda. Isto atrapalhou muito a produção nesta mama e Catarina ficou com um peito só para suprir suas necessidades. Mas é suficiente, o problema é que eu estava tomando por 10 dias remédios fortes, que me atrapalharam muito. Ela sugava, mas havia pouco leite. Ela chorava de fome e nem imaginávamos que pudesse ser isso. Como disse meu marido, nem tudo é como a gente imagina. O problema é quando NADA sai como você imagina. Iniciamos com o complemento através do relactador, 240ml/dia, fracionados em 8 mamadas. Tive o acompanhamento da Márcia em todo este período de pós parto, além das visitas que ela, Pri e Kátia me fizeram. Graças a esse acompanhamento,  Márcia descobriu que a nenê estava com sapinho (candidíase) e meu peito também. Tive que dar de mamar muitas vezes com a sonda no meu dedo mínimo, pois meu peito estava em petição de miséria. E eu não tinha a opção de dar o lado menos atingido, pois só tinha um lado para oferecer. Além disso, havia o problema do freio curto da língua. 
Sempre com a mamãe
Fizemos uma consulta com uma fonoaudióloga especialista em “pega” de bebês, indicada pela Márcia. Ela indicou a frenectomia, pois o caso de Catarina não se resolveria sozinho. Quando ela estava com 26 dias fizemos a primeira frenectomia. Não foi suficiente. Melhorou, mas era necessário cortar um pouco mais. Uma semana depois fizemos a segunda e última. E muitos exercícios para melhorar o movimento da língua e a pega dela. E melhorou. A candidíase só melhorou com medicamento via oral. Aos poucos tudo foi se corrigindo e ela foi ganhando peso. Ao final do primeiro mês retiramos o complemento.  O segundo mês foi de amamentação exclusiva. Ela ganhou 14 g por dia. Não era muito, estava um pouco abaixo da média, mas cada criança reage de um jeito, então a pediatra disse que podíamos seguir com a amamentação exclusiva. Ao final do terceiro mes, ela estava engordando 7,5g por dia. Era muito pouco. Ela estava crescendo a um ritmo vertiginoso, cerca de 5 cm/mês. E o crescimento ósseo gasta muita energia, e, no caso dela, impediu o ganho de peso ideal. Resultado: tivemos que entrar novamente com complemento, desta vez com apenas 180ml/dia. Ainda por cima fui diagnosticada com fenômeno de Raynaud, que provoca uma dor parecida com a da candidíase. E agora ela segue engordando bem, e eu estou fazendo tudo o que posso para aumentar minha produção de leite, para que haja excedente para complementar com meu próprio leite ao invés do L.A. Catarina é um bebê muito saudável, além de calma, risonha e comunicativa. Com certeza a forma com que foi tratada ao nascer influenciou muito nisto. Não teve colírio de nitrato de prata, a vitamina K foi via oral e ela teve que fazer apenas uma delicada aspiração oral por ter ingerido mecônio. Dra Sandra foi rápida e carinhosa nos procedimentos e foi quem deu o primeiro banho em Catarina, 2 dias depois do nascimento, no baldinho.Tudo isto me faz perceber que realmente não temos controle sobre nada. Na verdade, é importantíssimo estar consciente de que as coisas podem não sair como planejamos, para que se tenha estrutura emocional para lidar com o inesperado. Eu sempre disse que queria parto domiciliar, mas que não seria a qualquer preço. A partir do momento que houvesse algum risco para  mim ou para a bebê eu estaria preparada para lidar com mudança de planos. Ledo engano. Eu não estava preparada emocionalmente e foi muito difícil digerir todo esse maremoto que aconteceu. Mas, agora estou fazendo o meu melhor na criação de nossa filha e tenho certeza de que ela está ótima, em absoluta conexão comigo e com meu marido. Agora eu, que era frequentadora assídua dos encontros de gestantes, frequento o grupo de pós-parto, às sextas-feiras. É maravilhoso. As crianças interagem, as mães interagem, tiram dúvidas, se apoiam, se ajudam. Devo mais essa à Casa Moara.
Mamando na primeira hora após o nascimento
Não poderia deixar de agradecer a algumas pessoas. Em primeiro lugar, a meu amado marido, Rodrigo Vedovato, que se revelou um pai incrível e maravilhoso, e um companheiro incomparável, estando a meu lado durante todo o TP, apoiando minhas decisões e me ajudando e amparando demais no pós-parto. À Márcia Koiffman, parteira e amiga, pessoa incrível e boníssima, que me acompanhou e ajudou durante toda a gravidez, parto, pós-parto e até hoje peço ajudas e conselhos, que ela dá sem pedir nada em troca. À Priscila Colacioppo, querida demais, bruxa, fada, mágica com suas agulhas, ervas e palavras, além de suas doces mãos massageadoras e acalentadoras. À Kátia Barga, mãezona, com seu pão delicioso, seu reiki mágico e sua paciência e delicadeza. Ela me mostrou de onde vêm sua força física, afinal, haja braço para massagear alguém por mais de 27 horas. À Denize Barros, amiga querida, que veio me amparar e ajudar com suas palavras, sua massagem e seu amor. A sintonia dessa equipe criou um clima de amor e tranquilidade que foi fundamental para o bom andamento de todo o trabalho de parto. Além disso, agradeço à minha linda filha, Catarina, que enfrentou junto comigo as 36 horas de TP, numa mágica conexão de amor e paz, me mostrando que, mesmo que NADA saia como planejamos, por ela tudo vale a pena.
Agradeço enormemente à Dra. Sandra Regina de Souza, pediatra chamada em cima da hora, que permitiu que minha cesárea fosse humanizada com todas as letras, trazendo minha filha ao meu colo assim que ela deixou meu ventre e cuidando dela com todo o carinho do mundo. Agradeço à Dra. Nina (Honorina de Almeida), pediatra que conheci nos encontros de gestantes e que muito me ajudou com as dificuldades e dúvidas sobre amamentação que tive antes de ter a bebê e depois do nascimento. Tenho também que agradecer às queridas doulas da Casa Moara, Drika Cerqueira, Marcelly Ribeiro, Priscila Cavalcanti e Marília Reiter, que me passaram muitos conhecimentos nos encontros e muito amor do lado de fora da sala. E também agradeço demais ao Dr. Jorge Kuhn, que, além de me ensinar muito e apoiar a minha escolha, tirando minhas dúvidas sem mesmo que eu fosse sua paciente, gentilmente me emprestou o epi-no no final da minha gestação, gesto de carinho, confiança e generosidade que agradeço muito.
Enfim, tenho que dizer que se resolvermos ter outro filho, farei as mesmas escolhas. Parto domiciliar, sim. Com parteiras, sim. Frequentar encontros de gestantes, sim. A diferença é que agora estruturarei melhor meu plano B. Se ele não se fizer necessário, ótimo. Mas se precisarmos vou ficar muito mais tranquila sabendo que planejamos o melhor, sem ter que me preocupar com quem vamos chamar nesta hora tão difícil de tomar decisões.

Um comentário:

  1. História incrível de fé e determinação! Espero que estejam todos bem e desejo muita sorte!!!Tenho dois filhos, o primeiro tem 11 anos e foi cesárea, apesar de todo esforço que minha obstetra fez para q fosse normal, já o segundo com 2 anos nasceu de parto normal...confesso que não era minha intenção pois temia a dor, queria q fosse o melhor pro bebe e q fosse logo,rsrs mas na segunda gravidez já estava mais velha, amadurecida para este pensamento e conheci melhor a história da minha obstetra que faz uma campanha forte para que nasça bebes de parto normal, inclusive fiquei sabendo que ela ganha premios na Maternidade S. Luiz por ser recordista de bebes de parto normal. É a Dra. Rosana Castro Caponetti...Realmente é uma questão séria...mas a verdade é que Deus que sabe de todas as coisas e tudo está nas mãos dele...Fiquei emocionada com sua história...forte..densa...dolorida...emocionante...muitas definições...
    Tudo de bom pra toda família!!
    Lilian Najjarian/ SP

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