sexta-feira, 13 de abril de 2012

Parto Natural, Parto Domiciliar, Cama Compartilhada, Amamentação em Livre demanda, Vegetarianismo...Por que será que as nossas escolhas incomodam tanta gente?

Segue trecho do livro “Besame Mucho”, do pediatra catalão Carlos González e, em seguida, minha reflexão sobre o tema.

"A nossa sociedade, tão compreensiva noutros aspectos, é-o muito pouco em relação às crianças e às mães. Estes tabus modernos poderiam ser classificados em três grandes grupos:
- Relacionados com o choro: é proibido dar atenção a crianças que choram, pegar-Ihes ao colo, dar-Ihes aquilo que querem.
- Relacionados com o sono: é proibido adormecer as crianças ao colo ou a mamar, cantar ou embalá-Ias para que adormeçam e dormir com elas.
- Relacionados com a amamentação materna: é proibido amamentar a qualquer momento, em qualquer lugar; ou fazê-Io a uma criança demasiado crescida.
Quase todos eles têm uma coisa em comum: proíbem o contacto físico entre mãe e filho. Por outro lado, gozam de grande estima todas as atividades que tendem a diminuir o referido contato físico e aumentar a distância entre mãe e filho:
- Deixá-Io sozinho no seu quarto.
- Transportá-Io num carrinho ou numa dessas incómodas cadeiras de plástico.
- Colocá-Io num berçário o mais cedo possível ou deixá-Io com uma avó ou, de preferência, com uma babá (as avós tornam os netos mal-educados!).
- Inscrevê-Io em colônias e acampamentos cedo e durante o maior período de tempo possível.
- Ter espaços de intimidade para os pais, sair sem as crianças, fazer vida de casal.

Ainda que algumas pessoas tentem justificar estas recomendações dizendo que permitem que a mãe descanse, a verdade é que nunca proíbem nada de cansativo. Ninguém lhe diz “Não limpe tanto, que ganha o mau hábito de ter a casa limpa”, ou “Quando for à tropa, terá de ir atrás para lhe lavar a roupa”. Na verdade, o proibido parece ser a parte mais agradável da maternidade: adormecê-Io ao colo, cantar-lhe, desfrutar da sua companhia. Talvez seja por isso que criar os filhos se afigure tão difícil para algumas mães. Há menos trabalho que antigamente (água corrente, máquina de lavar, fraldas descartáveis), mas também há menos compensações. Numa situação normal, quando a mãe desfruta da liberdade de cuidar do filho como acha conveniente, o bebé chora pouco e, quando chora, a mãe sente pena e compaixão “Coitado, o que é que ele terá?”. Mas quando a proibiram de lhe pegar ao colo e dormir com ele, amamentá-Io ou consolá-Io, a criança chora mais e a mãe vive esse choro com impotência e, a longo prazo, com raiva e hostilidade “E agora, que Diabo lhe mordeu?”.
Todos estes tabus e preconceitos fazem as crianças chorar e também não fazem os pais felizes. A quem satisfazem então? Talvez a alguns pediatras, psicólogos, educadores e vizinhos que os defendem? Eles não têm o direito de lhe dar ordens, de lhe dizer como deve viver a sua vida e tratar o seu filho. Demasiadas famílias sacrificaram a sua própria felicidade e a dos seus filhos no altar de preconceitos sem fundamento.”

Carlos Gonzalez é uma das minhas leituras obrigatórias. Amo. E relendo este trecho do livro “Besame mucho” fico pensando em como essas coisas incomodam a sociedade. O fato de Catarina só comer orgânicos, não comer carne nem doces e nem frituras, dormir conosco e mamar no peito causa espanto e muitas vezes indignação a muita gente. Ora, a OMS e o Ministério da saúde recomendam que não se ofereça doces e frituras a crianças pelo menos até os dois anos de idade. Pelo menos. A cama compartilhada é algo que nitidamente deixa as crianças mais felizes, calmas e tranquilas e é amplamente condenada pela sociedade. Porque as crianças vão ficar mal-acostumadas. Mal-acostumadas? Em ter o carinho dos pais? E é problema de quem se minha filha dorme na miha cama? Só meu. Não consigo entender porque as pessoas se indignam tanto com isso. Ela dormirá em nossa cama até quando considerarmos que é saudável e importante para nós três. E ponto. Não condeno mães de crianças que dormem em berços, em outro quarto, que deixam chorar até dormir, que não amamentam por simplesmente não querer. Cada mãe sabe o que funciona melhor para seu filho. Cada mãe busca a informação que combina mais consigo mesma. Só não gosto de ser condenada por minhas escolhas, que, como toda mãe, acredito serem as melhores para minha filha. Porque se ofender com comportamentos adotados por outras pessoas? A sociedade é muito cruel com aqueles que adotam posturas fora do padrão estabelecido por sei lá quem e difundido pela mídia. Cada um escolhe o caminho de vida que quer seguir. Outro ponto que tem me incomodado bastante é a amamentação. A orientação da OMS e Ministério da saúde é que a criança seja amamentada PELO MENOS até 2 anos de idade. Catarina tem 1 ano e 2 meses. Mama em livre demanda. Quando quer e quanto quer. Não usa mamadeira e nunca usou chupeta. O único leite que toma é o meu. Dorme no peito. E é muito feliz com isso e eu também. Mas a sociedade… Alguns dizem “Nossa, que ótimo que ela ainda mama!”, enquanto outros dizem “Nossa, ela AINDA mama??????”. É duro. Eu não tenho mais paciência para dar muitas explicações. Sim, ela mama e vai desmamar sozinha, quando não for mais necessário para ela. Sim, ela dorme comigo e assim será até quando acharmos bom para nós três. Sim, ela não come carne, nem doces, nem frituras. Sim, ela é muito saudável. Não toma Ad-Til e nem suplementa ferro. E tem a melhor pediatra do mundo, competentíssima e humanizada. Sim, ela é atendida em todas as suas necessidades emocionais. Sempre que nos solicita recebe amor e atenção, o que faz com que confie em nós. Confia porque sabe que quando precisar estaremos lá. E somos muito felizes com isso. E ela também. Fazemos um investimento a longo prazo. Acreditamos que amor e atenção geram segurança e independência. Acreditamos nos nossos instintos e tenho certeza de que colheremos excelentes frutos no futuro. Na verdade já estamos colhendo os frutos de nossas escolhas. E posso dizer que é maravilhoso acreditar que suas escolhas são as melhores e depois ter certeza disso. 
Cada mãe deve acreditar nas suas escolhas. Este post - e qualquer outro que publico - é simplesmente fruto da minha vontade de compartilhar o sucesso das minhas escolhas para minha filha. Não é para ofender ou atingir alguém. Acredito que toda mãe busca acertar. Só que cada uma escolhe um caminho. Eu respeito isso e sigo o meu, aquele que acredito. E desejo compartilhar para que aquelas que ainda estão em busca de um caminho possam ler e pensar a respeito, sempre analisando aquilo que melhor se ajusta aos seus conceitos. Sempre é tempo de mudar se o que escolhemos não mais atende nossas necessidades.Acima de tudo temos que ser felizes com nossas escolhas e acreditar e confiar nelas. 

domingo, 25 de março de 2012

Sobre a praticidade


Lendo um  post da Nanda de 9/10/11 no Blog Mamíferas falando sobre o que adotamos em nome da maternidade prática e resolvi escrever por aqui. Catarina está com 1 ano e quase 2 meses e ainda acorda à noite para mamar. Como fazemos cama compartilhada desde os dois meses dela, não sei precisar quantas vezes ela acorda. Muitas vezes amamento praticamente dormindo e ela mama da mesma forma. É uma delícia dormir com ela na cama, não vou negar. Mas ela veio para a minha cama porque eu não queria mais ficar levantando de madrugada para amamentar. Eu não conseguia descansar, ficava o dia todo acabada. A privação de sono é péssima para nosso estado emocional também. Eu precisei dar complemento para ela nos 6 primeiros meses, mas era muito pouco por mamada e eu fazia relactação. Pouquissimas vezes ela tomou mamadeira. E, quando começou a comer alimentos sólidos, abandonamos de vez o complemento e ela ficou só com o leite materno e  a alimentação complementar. Até hoje só toma o meu leite, nada de leite de vaca. É prático, mas não optei por isso pela praticidade, e sim pelo valor do leite materno para a saúde dela.
Quanto à alimentação, sempre fui contra as papinhas industrializadas. Ela come somente orgânicos que compro toda semana na feira de orgânicos. E eu faço a comida cozida no vapor e sem sal. E faço diferente para o almoço e jantar, para ficar com uma alimentação variada e completa. Dá trabalho sim, mas já incorporei à minha rotina diária.  Se preciso passar o dia fora com ela, ou se preciso sair muito cedo, simplesmente faço a comida na noite anterior.  Se resolvemos viajar, faço e congelo, levando as porções separadas, congeladas individualmente.
Catarina usando Fralda Madrinha
Com relação ao tipo de fraldas. Eu sempre quis usar apenas fraldas de pano. Por causa da pegada ecológica e também por causa de alergias aos produtos químicos que existem nas fraldas descartáveis. Eu não uso absorvente, uso o Mooncup, pois acho mais prático, mais higiênico e mais ecológico, então seria um contra-senso usar fraldas descartáveis na Catarina. Fiz um estoque em casa, suficiente para 3 ou 4 dias. Comprei o que havia de mais moderno no mercado, Bum Genius, FuzziBunz, Blueberry, Fralda Madrinha e Fio daTerra. Tenho fraldas pocket, AIO, capas, enfim todos os modelos. De diversos materiais, pull, soft, algodão orgânico. A maioria one-size, para não ter que ficar comprando de tempos em tempos conforme o crescimento dela. Catarina nasceu alta e magra. NENHUMA das minhas fraldas de pano serviu nela antes de 5 meses. Todas vazavam na perninha, porque ela era magrela. Resultado: até os 5 meses, praticamente só fralda descartável. Por um lado foi bom. Aprendi que temos que ser maleáveis com tudo. Hoje ela usa fralda de pano na maior parte do tempo e eu adoro. Acho lindas, todo mundo que vê fica babando nas estampas. Mas se tenho que ir a algum lugar em que sei que vai demorar para trocar, ou que a troca será difícil, ou ainda se vamos passar muito tempo fora, caso em que tenho que levar muitas fraldas, opto pelas descartáveis. Sem culpa. Nesse caso, me rendi à praticidade, o que me fez entender que as coisas mais práticas podem ser usadas com comedimento e a nosso favor. Não acho um sacrifício lavar as fraldas, acho tudo muito simples. Vai tudo para a máquina e fica tudo muito limpinho. É tão prático quanto as descartáveis. A única diferença é volume para transporte.  Cerca de 7 fraldas descartáveis ocupam o espaço de 2 fraldas de pano. Por isso me rendo a elas quando acho conveniente.
Tem mais uma coisa que acho extremamente prática. O sling. Tenho diversos, de dois modelos: wrap e de argolas. Adoro e uso até hoje. Ir ao shopping com carrinho para mim sempre foi um suplício, talvez porque eu sempre tenha respeitado os avisos de não andar com o carrinho nas escadas rolantes. Os elevadores são demorados, estão sempre lotados. Ir de um andar a outro demora um século. E com o sling me movimento livremente sem ter que esperar em filas. Quando ela era menor e chegava dormindo aos lugares, eu conseguia até almoçar com ela dormindo no sling. Agora ela já anda, está grande e, se vou ao shopping para comer, coloco ela no cadeirão e comemos juntas. Até na feira vamos de sling. Acho prático, confortável e lindo de usar. Super recomendo!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Balanço Geral - 13 meses e 23 dias

Há pouco mais de um ano atrás teve início um dos momentos mais intensos da minha vida: o meu trabalho de parto. Após 36 horas de muita cumplicidade entre mim, meu marido Rodrigo e nossa equipe de apoio, as queridas Márcia, Priscila, Kátia e a amiga Denize, nascia minha princesa Catarina. Uma luz que veio para tornar o nosso caminho mais cheio de amor e felicidade. O relato completo do parto está aqui. Agora venho fazer um pequeno balanço dos momentos mais marcantes com minha pequena. Agora ela já está andando, independente, mas cheia de amor pela mamãe e papai.
Furamos sua orelhinha com 12 dias de vida, pelas mãos da querida Priscila Collaciopo, e ela nem sentiu. Com 3 meses já sustentava firme a cabecinha e rolava prá lá e pra cá. Com 6 meses sentou firminha e com 7 começou a engatinhar loucamente e começou também a falar mãmã se dirigindo a mim.  Hoje fala “mamãe”,  “mãe”, “mamá”, “papa”, “Zizi”, “Uã” e “Xui” (para  Ziggy, Luã e Suzy, meus cães que moram com minha mãe),  falava “Dui”(para a Julie, nossa cachorra que morreu um dia depois de Catarina completar um aninho), “ixi” (quando algo inesperado acontece), “esse” (apontando para algo que quer), “titia” (para a tia Vanessa, minha irmã), “tití” (para o tio Rafa, irmão de meu marido) e “vovó”e “uouó” (para minha mãe), além de imitar diversos sons que fazemos e cantar junto com as músicas que ouve. Com 9 meses bateu palminhas. Com 10 meses deu os primeiros passinhos, que se consolidaram aos 11 meses. Hoje, quando perguntamos a ela quantos anos ela tem, ela mostra o dedinho indicador e depois bate palminhas quando dizemos: “Um aninho! Muito bem!” Quando damos tchau ela acena com a mão e manda beijinho. Os primeiros dentinhos vieram com 7 meses, os incisivos centrais inferiores. Logo depois os superiores e os incisivos laterais superiores e depois os inferiores. Agora já nasceu o primeiro molarzinho inferior e está nascendo o primeiro superior. Ela já tem 10 dentes! Ela começou a ingestão de alimentos complementares aos 6 meses e meio. Optei por esperar um pouco mais para iniciar a introdução alimentar porque ela estava mamando bem e eu tinha medo dela desmamar. Ledo engano. Depois que começou a comer passou a mamar loucamente, mais que antes. E também a engordar loucamente, mais do que em qualquer fase de sua pequena grande vidinha. Vou à feira de orgânicos toda semana, ela não come agrotóxicos. Foi minha escolha não dar nenhum tipo de proteína animal para ela nos primeiros meses de introdução alimentar. A gema de ovo orgânico bem cozida entrou só aos 11 meses e meio e os peixes (sempre de águas frias e profundas, pois peixes da costa podem conter traços de mercúrio e peixes de criadouros são alimentados com ração e podem conter hormônios, entre outras coisas) entraram com 13 meses, junto com o ovo pochê. Catarina não vai comer carne vermelha nem frango até os 3 anos de idade, ou até quando puder escolher, saber de onde vem e como é produzida a carne que se come. Se ainda assim desejar comer, não vou proibir. Mas por enquanto, somente ovo e peixes. Vou retardar a introdução de lácteos o máximo que conseguir, pois enquanto ela estiver no meu leite não precisa de leite de vaca. Pretendo amamentar pelo menos até 2 anos de idade. Açúcar também não entrará em seu cardápio até os 3 anos de idade. Não entrei com nenhum tipo de adoçante para ela. Ela come tudo ao natural e até suco de limão toma puro e adora. São escolhas que EU fiz, depois de ler diversos artigos das sociedades americana e brasileira de pediatria e por acreditar ser o melhor para ela. Sei que não será fácil, pois nem sempre nossas escolhas são apoiadas por todos que nos cercam. Parte da família apóia e parte da família acha que é exagero. Mas não me importo com a opinião alheia, me importo com a saúde dela, acredito que se eu deixar uma base bem construída a casa será forte e resistente. Não vai ser fácil, mas aprendi a impor as minhas decisões, afinal EU sou a mãe.  EU sou a responsável pela saúde e bem-estar dela.  Por isso busco as melhores informações, vou atrás de estudos, converso com a excelente pediatra que ela tem, troco “figurinhas” com outras mães que pertencem à minha “tribo”, que buscam os mesmos caminhos que eu. A troca de experiências é fantástica e muito rica. Este foi um ano de muitas descobertas, muitas conquistas e muito amor. Agora começa mais uma fase de novas descobertas, mais um ano na vida da minha princesa. Mais um ano nessa maravilhosa saga que é ser MÃE...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Relato de amamentação da Catarina - Primeiros 6 meses


Com 12 dias e de brinquinho!

Logo na gestação eu sabia que minha amamentação não seria fácil, pois tinha feito uma quadrantectomia na mama esquerda há doze anos, por conta de um câncer. Quis que minha filha, ao nascer, mamasse primeiro nessa mama operada, logo que veio para os meus braços, ainda na sala de parto. Mas não rolou.  E assim que coloquei na mama direita ela mamou super bem. Eu tentei por um bom tempo, mas ela não pegava o peito esquerdo. Por causa da cirurgia fiquei com uma cicatriz que não deixava a pega dela ser eficiente. Catarina, ainda por cima, nasceu com o freio da língua curto (a popular “língua presa”), o que dificultou ainda mais a pega perfeita. Notamos esse problema ao nascer, mas decidimos esperar, para ver se isso se corrigiria com a amamentação. Ao final de 7 dias, ela havia perdido mais de dez por cento do seu peso e a pediatra decidiu entrar com complemento, cerca de 200ml/dia, para que não houvesse o risco de desnutrir ou desidratar. Entrei com o complemento e ela começou a engordar.
Com 34 dias
Fazia o esquema de relactação, com o Mama Tutti. Entretanto, comecei a sentir muitas dores ao amamentar. Eu amamentava de um só lado, pois o peito esquerdo não produzia.
Liguei para a minha parteira, Márcia Koiffman, relatando que estava com uma dor absurda, umas agulhadas fora das mamadas. Eu chorava a cada mamada, era muita dor. Ela me orientou a dar de mamar colocando a sonda do Mama Tutti no dedo mindinho e colocando na boca da nenê para ela sugar. Funcionou inicialmente, quando eu não aguentava de dor colocava a sonda no dedinho. Entretanto, as dores pioraram. Houve dias em que eu não conseguia sequer coloca-la no peito, de tão vermelho e sensível que estava. Márcia então conseguiu uma consulta de emergência para mim com a fonoaudióloga especialista em “pega” de bebês Tereza Sanches.  Ela analisou o freio da língua de Catarina e viu que era muito curto e não ia ceder com a amamentação. Na verdade, isto estava atrapalhando a amamentação, pois ela não conseguia fazer o movimento completo com a língua para trazer leite suficiente. Isto fazia com que ela ficasse com fome, pois a “pega” não era efetiva. Catarina precisava utilizar outros recursos, como morder e sugar fortemente para trazer uma quantidade aceitável de leite. Decidimos então pela frenectomia, o corte do freio da língua, feito por uma odontopediatra. Fizemos e voltamos na fono para analisar. Não foi suficiente e tivemos que refazer uma semana depois. Aí sim, as coisas começaram a melhorar.
Fizemos muitos exercícios para melhorar a pega dela no peito. E funcionou. Em pouco tempo ela estava com uma pega bem efetiva, mamando bastante e com qualidade.
Com dois meses
Quando ela completou um mês, decidimos juntamente com a pediatra, iniciar a retirada do complemento, lentamente, pois ela estava engordando muito bem.
Nesta consulta de um mês, fui diagnosticada com candidíase, juntamente com a Catarina. Iniciamos o tratamento com uma pomada de uso tópico, que utilizei por cerca de 20 dias. Não resolveu. Tentamos nistatina. Também não resolveu.
O segundo mês foi marcado pelo processo de retirada do complemento e, com dois meses completos ela estava só no peito. Na consulta de dois meses ela estava ganhando 14 gramas por dia. Não era muito, na verdade estava um pouco abaixo da média, mas decidimos esperar mais um pouco para tirar qualquer conclusão e mantivemos só o peito, em livre demanda. Nesta mesma época decidimos entrar com o fluconazol, um antifúngico via oral. Tomei por 28 dias e a candidíase finalmente sarou.
Com 3 meses
Quando ela completou 3 meses e 10 dias fomos a uma nova consulta. Ela estava ganhando apenas 7 gramas por dia. Era muito pouco. E, novamente, junto com a pediatra, decidimos pela reinserção do complemento, desta vez apenas 180ml/dia. Este “pouquinho” já fez com que ela recuperasse muito bem o peso.
Continuei fazendo o sistema de relactação.  Nesta mesma consulta, fui diagnosticada com fenômeno de Raynaud, que faz com que o bico do seio fique branco após a mamada, sem circulação. Fui orientada a fazer compressas quentes no mamilo e a tomar vitaminas C e E. As compressas ajudaram muito, mas amamentar nunca foi confortável. E, numa conversa com a Dra. Nina, pediatra, percebemos que nesta amamentação (da Catarina) dificilmente seria.
Esse fenômeno provoca muita dor, semelhante à da candidíase. E o tratamento é sintomático apenas, não se fala em cura. Mas segui amamentando e fazendo o tratamento indicado pela pediatra.
Com quase 4 meses, mamando
Nas consultas de 4 e 5 meses Catarina seguiu engordando e crescendo muito. Com 6 meses e meio iniciamos a introdução alimentar.  Eu tinha muito medo de iniciar com alimentos sólidos e ela parar de mamar, ou diminuir muito a amamentação. Mas, para minha surpresa, ela está mamando tanto ou mais do que antes. Ela mama antes e depois das refeições. E nos intervalos também. E mama MESMO, não fica só chupeitando. E também mama de madrugada.
Eu decidi por não fazer desmame noturno. Acho que ela é muito nova para isso e eu também não quero. Lutei muito para conseguir amamentar e quero prosseguir até os dois anos, pelo menos. Fazemos cama compartilhada, portanto não me incomoda acordar à noite para dar de mamar.
Agora chega de atrapalhar minha mamada!
E, além de tudo isso, ela bate um pratão. Come de tudo, adora vegetais, frutas, enfim, o que ofereço ela come com gosto. Estou muito feliz com essa introdução alimentar, que por enquanto é complementar ao alimento principal: leite materno.
Espero continuar amamentando por muito tempo. Amamentar nunca foi e nem será confortável para mim, por conta de todos esses problemas. Mas é um momento único, só meu e de minha filha, um momento da mais íntima e sincera conexão entre nossas almas. Um momento onde além do leite ela suga todo meu amor e me devolve da mesma forma, através do seu olhar tão terno e doce. Um momento onde transborda o maior amor do mundo.


quinta-feira, 9 de junho de 2011

Relato de parto - Priscila e Catarina - 29/01/2011


39 semanas
A história começa antes da gestação. Navegando pelo site da querida Denize Barros, que fabrica e vende as bolsas La Reina Madre, fui atraída pelas indicações das Bacanices, links para sites que ela também curte. Encontrei então o site da Primaluz – Parteiras Contemporâneas. Lá chegando, comecei a ler os relatos de parto, ver os vídeos e me encantar com o mundo do parto humanizado e mais ainda com a possibilidade do parto domiciliar. Entrei em diversas listas de discussão, me informei muito e li muito a respeito. Comentei com meu marido a respeito do parto domiciliar e sua resposta inicial foi negativa. Aos poucos fui mostrando a ele vídeos de partos naturais, relatos e estudos. Em pouco tempo ele estava convencido. Logo no mês seguinte, o primeiro mês que realmente “tentamos”, eu engravidei. Eu não tinha um obstetra de confiança, estava indo em um médico do convênio, mas já sabia da sua fama de cesarista, pois ele era especialista em fertilização. Na quinta semana de gestação, logo que descobri a gravidez, marquei uma consulta com a Márcia Koiffman, na Casa Moara, para conhecer o trabalho da Primaluz e tirar todas as dúvidas sobre tipos de parto. Meu marido ainda tinha muitas dúvidas em relação ao parto domiciliar, por pura falta de informação. Após esta consulta com a Márcia, saímos decididos pelo parto domiciliar, só não sabíamos ainda como comporíamos a equipe. Era uma quarta-feira, dia de encontro de gestantes na Casa Moara, e decidimos ficar e participar.  E a partir daí, minhas quartas-feiras à noite já estavam todas comprometidas. A cada dia era uma aula, uma consulta cheia de informações, um mundo de conhecimentos. Muitos encontros contavam com a participação das parteiras Márcia Koiffman e Priscila Colacioppo, do médico-parteiro Dr. Jorge Kuhn, além das doulas que ajudam a coordenar e convidados brilhantes que vinham esclarecer muitas dúvidas. Um curso completo sobre parto humanizado, cuidados com o bebê e amamentação.
Katia fazendo massagens para alívio da dor
Durante toda a gestação, tivemos a certeza do parto domiciliar. Apoio da família, da maior parte dos amigos e plena consciência da nossa decisão. Nossa bebê cresceu saudável, fiz o pré-natal todo com a Márcia Koiffman, fiz yoga para gestantes, watsu, natação até 2 dias antes do nascimento, caminhadas, engordei pouquíssimo, enfim, cuidei para que tudo corresse normalmente e da melhor forma possível. No dia 21 de dezembro fiz uma única consulta com o médico que havia escolhido para ser meu plano B, o Dr. José Vicente Kosmiskas. Gostei dele, a consulta demorou uns 40 minutos, fui muito bem atendida. Mas essa era a minha única certeza do plano B. Não pensei em pediatra, anestesista, enfim, em mais ninguém da equipe médica, caso fosse necessário. Nunca acreditei que eu precisaria ir para o hospital. Minha gestação estava ótima e eu tinha certeza do parto domiciliar. Pensei que, caso precisasse do plano B, optaria mesmo pelo pediatra plantonista e anestesista idem, pois não tínhamos dinheiro e o JV não atendia nosso convênio, ou seja, já teria que pagar o G.O. No final da gestação, uma pequena chatice: o exame de strepto apontou positivo, mas consegui reverter com a terapia do alho durante 8 noites.
Katia massageando e aplicando Reiki para desinchar
No dia 27 de janeiro, uma quinta-feira, tivemos consulta de rotina com a Márcia, que constatou que estava tudo bem e decidimos adotar a DPP da D.U.M., já que a DPP do 1º US já havia passado (era dia 25). Eu perguntei a ela se ia fazer exame de toque e ela me disse que não precisava, já que resolvemos adotar a data da D.U.M., pois eu poderia estar sem dilatação e acabar me estressando com isso. Se precisasse, faríamos na semana seguinte. Saí de lá com alguns pedidos de exames para a próxima semana e confesso que um pouco tensa com tudo o que precisaria fazer caso ela chegasse nas 42 semanas. Fomos fazer umas compras no Leroy Merlin, alguns detalhes que faltavam para o parto e para a casa. Nessa mesma noite, senti umas pequenas cólicas e um pouco de dor nas pernas e achamos que é porque tínhamos andado muito depois da consulta, comprando as ultimas coisinhas. Durante a madrugada toda senti contrações quase indolores, porém incômodas, na barriga. Entretanto, às 6 da manhã elas começaram a vir como cólicas e achei melhor ir tomar um banho pra ver se passava. Tomei um longo banho e durante este senti cerca de 4 contrações. Me vesti e fui comer alguma coisa. Como as cólicas não paravam, resolvi começar a contar às 7:30 da manhã. Contei por duas horas, estavam bem irregulares, cerca de 9 contrações por hora. Liguei para a Márcia e avisei. Ela me explicou que era mesmo trabalho de parto mas estava bem no comecinho, que ia engrenar quando eu conseguisse contar a partir de 14 contrações por hora.
Márcia ouvindo batimentos da bebê
Ficamos então, eu e meu marido, nos divertindo com o programa Contraction Master, cronometrando cada contração que vinha. Entrei em contato com a Katia Barga, que seria minha doula e com a Denize Barros, minha doula-amiga. Como eu estava lidando bem com as contrações, disse a elas que não precisavam vir cedo, poderiam vir só no fim da tarde. Elas continuaram me ligando algumas vezes durante o dia, para ter certeza de que estava tudo bem. Após o almoço o meu marido foi levar nossa cachorra weimaraner para a casa de minha mãe. Por volta de 16:30h chegou a Denize.  Conversamos bastante, ela me fazia algumas massagens, mas a coisa ainda estava light. Um pouco depois chegou a Kátia, com um delicioso pão fresquinho preparado por ela. Fomos então tomar um ótimo café da tarde, eu, Rodrigo, Katia e Denize. 


Marcia ouvindo batimentos durante contração e
Kátia ajudando com massagens
Quando vinha a contração eu ia pra bola, alguém me ajudava e pronto. Voltava pra mesa, comia mais um pouco até a próxima contração. Márcia sempre ligava pra saber a quantas andava o TP. As contrações começaram a ficar mais intensas, eu comecei a sentir uma dor que descia pela lombar e irradiava para as pernas, terrível. A única coisa que me ajudava era ficar pendurada no Rodrigo enquanto alguém massageava minha lombar e meu quadril. Essa dor durava cerca de três ou quatro minutos. As contrações começaram a ficar sem intervalos, com essa dor insuportável, por volta de 21:30h. Katia falou com a Marcia e ela veio para a minha casa, chegando cerca de 23:00. Quando ela chegou, observou as contrações, monitorou a bebê, viu que estava tudo bem e me disse que precisava fazer um exame de toque, mas que ainda poderíamos esperar um pouquinho. Eu estava bastante relutante com relação a esse exame, pois tinham me falado que era horrível e doía muito. Enfim resolvi fazer. O exame é feito fora da contração e durante a contração. Eu estava com quatro centímetros ainda, mas a Márcia fez uma manobra onde eu fazia força na contração e rapidamente evoluí para 6 centímetros. Fiquei muito feliz com isso e o exame nem foi tão horrível assim. 
Marcia ouvindo batimentos da bebê
As dores começaram a piorar, eu tinha muita dificuldade de me sentar na bola, não conseguia deitar e nem me acocorar, pois a dor que irradiava para minha perna era muito intensa. Só conseguia ficar dependurada no Rodrigo ou então debaixo do chuveiro, em pé, apoiada na parede. Primeiro Márcia e depois Kátia me faziam massagens na lombar e nas pernas enquanto eu estava no chuveiro. Eu queria muito entrar na banheira. As meninas então arrumaram a sala e montaram a banheira. Mas a Márcia me disse que gostaria que eu esperasse a Pri chegar, pois faríamos uma acupuntura e aí então eu entraria na água. Esperei, sei que não foi muito, mas pareceu uma eternidade, por causa da dor nas costas e pernas.  Quando a Pri chegou fizemos a acupuntura e também moxabustão e depois de alguns momentos ela me diz: “Parabéns, você está na fase ativa!” Eram cerca de 4:30 da manhã. Eu estava com 7,5 cm. Apesar de ter entrado na fase ativa, as contrações não ritmavam, mas vinham muito mais doloridas. Pedi para entrar na banheira. De imediato, a sensação foi ótima. Entretanto, as contrações começaram a espaçar cada vez mais. 
Aguardando anestesia para tentativa de PNH
Cada vez que vinha uma era uma dor incrível que eu tentava aliviar segurando na mão do meu marido e da Kátia, ou do meu marido e da Denize.  Pedia pra elas jogarem água nas partes do meu corpo que ainda estavam fora d’água. Tentava relaxar colocando a cabeça na água, boiando um pouco, mas, ao mesmo tempo, ia ficando cada vez mais nervosa pela parada de progressão do TP. Elas queriam que eu ficasse na água pra relaxar e descansar, mas eu não conseguia pois só pensava que ficar ali tinha interrompido meu TP. Depois de um tempo, a Pri veio me examinar e a Márcia veio ver a bebê. Tudo bem com ela e eu estava com 8 cm. Decidimos sair da piscina e tentar mais um pouco de acupuntura e moxabustão. Após isto, resolvi deitar junto com meu marido, pois meu grau de exaustão era tal que não me permitia mais ficar em pé. Tudo doía o tempo todo, eu não identificava mais intervalos entre as contrações. Pedi uma bolsa de água quente para o meu marido e a Kátia rapidamente providenciou uma. Ela segurava a bolsa aonde a dor era pior e ele me abraçava (eu estava deitada).  Márcia veio até o quarto e comentei que estava sentindo uns puxos. Ela me disse que quando eu sentisse vontade de fazer força era pra fazer, que isso faria com que a dor passasse pois eu estava na fase de transição. Eu fazia muita força. A cada contração. E comecei a sentir algo diferente quando fazia força. Chamei a Márcia e ela trouxe o banquinho de cócoras. Depois de alguns puxos, a Pri me examinou para ver se era a cabecinha da bebê e pra ver qual era a dilatação. E, depois de tantas horas ela me disse: “8 cm.” E então eu chorei. Muito. 
Com José Vicente Kosmiskas e
anestesista, esperando TP engrenar
Não entendia como depois de tanto tempo, tanta dor, não tinha dilatado mais nada. 8 cm, bebê alta, a -2cm da bacia, e não descia. Bolsa íntegra. Parada nítida de progressão. As contrações começaram a ficar cada vez mais espaçadas. Eu chorava de dor e tristeza com medo de ter que tomar a decisão que eu não queria. Lembro-me que, depois que eu me acalmei disse para a Kátia: “É nessa hora que as parturientes pedem cesária, né? Mas eu não vou pedir.” Márcia e Pri conversaram então comigo sobre as possibilidades que tínhamos em casa e no hospital. Eu queria tentar tudo o que fosse possível em casa. Comecei a cogitar a possibilidade de ir para o hospital. Pensei nisso por muitas horas, talvez umas 5 horas. Eu não queria tomar essa decisão. Pri e Márcia me explicavam o que aconteceria quando chegássemos no hospital, que eu tomaria analgesia e ocitocina e aí provavelmente o TP iria engrenar. Estava tudo bem com a bebê, então eu pensei nisso por muito tempo. Fizemos mais acupuntura e moxa, e a Pri colocou uma agulha no “terceiro olho” que me fez relaxar e cochilar um pouco. Quando acordei, senti que realmente não dava mais. Eu estava muito fraca, meu útero não tinha mais força para se contrair. As contrações estavam espaçadas demais. Meu trabalho de parto estava praticamente parado. Chamei as meninas, e chorando muito pedi para verem se a pediatra que eu queria (Dra Sandra Regina de Souza - pediatra neonatologista) podia ir atender meu parto. Ligaram para o médico do meu plano B. Reservaram o Hospital São Luiz, a delivery 2, resolveram absolutamente TUDO para mim, enquanto eu estava deitada, tentando parar de chorar e descansar. Ninguém contestou minha decisão e nem me disse “Mas não era isso que você queria, você quer parir em casa”, como já li em muitos relatos. Então eu soube que aquela decisão de transferência para o hospital não era só minha. Era minha, das parteiras, do meu marido e da doula. Não era mais possível um parto domiciliar. E fomos. Pri e Marcia cada uma com seu carro. E eu, tentando me manter em pé até a garagem por causa das contrações. Entrar no carro foi um martírio, fui acocorada no banco de trás, Katia foi comigo, me massageando sempre que vinha a contração e Rodrigo foi dirigindo. Ao chegar no São Luiz, passamos pela admissão, eu mal consegui assinar o papel da internação. 
Iniciando a cesárea
Esperei a Márcia chegar para entrar na sala onde recebem as gestantes, pois não aceitaria que ninguém colocasse a mão em mim naquele momento. Assim que a Márcia chegou entramos na sala e me colocaram o cardiotoco em pé mesmo, pois eu não tinha a menor condição de deitar. O cardiotoco estava ótimo e fiquei algum tempo esperando a aprovação do convênio, tempo este que pareceu uma eternidade. A cada contração a Márcia me ajudava com a insuportável dor no ciático que insistia em não me abandonar. E quando a enfermeira que me colocou o cardiotoco estava na sala, ela também me massageava. Finalmente fomos liberadas para ir para a delivery 2. Me ofereceram cadeira de rodas, que eu rejeitei, é claro. Fui andando até o elevador, parando a cada contração para respirar e para que a Márcia me massageasse. Claro que o hospital inteiro me olhava, como se eu fosse um E.T. Ao chegar na delivery 2, a Pri já estava lá e a Kátia já tinha enchido a banheira para mim. Entrei imediatamente na água, para aliviar a dor. A dor física, pois a do coração não tinha como. Eu não queria estar lá e só chorava. Meu marido chegou, com a indumentária apropriada e eu quase não o reconheci. Lembro dele falar: “Vamos tirar uma foto?” e eu pensar: “Por que esse médico quer tirar foto comigo??” Mas a “ficha” caiu logo... rsrsrs Pouco depois chegou o José Vicente, me cumprimentou e disse que logo iríamos fazer uma analgesia leve. Quando a anestesista chegou, saí da banheira. Ela me aplicou um pouco de raqui (faríamos o duplo bloqueio, analgesia adequada para o parto normal, sem que eu perdesse o movimento das pernas) e a dor foi aliviando. Me pediram para sentar na cama para colocar o cateter da peridural. Ao sentar na cama senti uma dor de cabeça horrível e tive que me deitar. Demorou, mas a dor passou e aí a anestesista tentou colocar o cateter e não conseguiu. Resolvemos deixar para colocar um pouco mais tarde. Colocaram ocitocina e eu fiquei ali deitada, aguardando que as contrações se intensificassem e engrenassem. Neste momento eu sentia apenas uma coliquinha. O médico e a anestesista foram tomar café e eu fiquei sozinha na sala, com meu marido. Pedi que ele pegasse meu celular e liguei para a Márcia, pedindo que viesse conversar comigo em particular. Ela e Pri vieram. Eu estava assustada com o tal cateter da peridural, com medo de uma cesárea desnecessária, e elas me tranquilizaram muito, dizendo que ninguém faria nada que não fosse absolutamente necessário. Ah, como é bom confiar na nossa equipe! Me acalmei e elas deram uma saída da sala. 
Catarina em meu colo assim que foi retirada da barriga
O médico voltou. Depois de quase três horas na ocitocina, nada de as contrações engrenarem, bebê alta, colo com 8 cm de dilatação. Nenhuma mudança no quadro. O médico me sugeriu que rompêssemos a bolsa. Eu topei, pois queria muito que o TP engrenasse. Ao romper a bolsa, ele se deparou com pouquíssimo líquido e muito mecônio espesso e particulado. Parecia uma pasta que sujava minha perna. Ele se desesperou e imediatamente chamou a enfermeira, indicando que elas iam me preparar para a cesária, pois com tanto mecônio e todo o quadro que havia se formado já não havia mais o que fazer. Tínhamos que desligar a ocitocina imediatamente para que a bebê não corresse o risco de entrar em sofrimento fetal e nem aspirasse o mecônio. Comecei a chorar profundamente. E exigi a presença da Márcia, disse que não iria a lugar nenhum sem a confirmação do diagnóstico por ela. A Kátia chamou e a Márcia me examinou. E veio a confirmação. Não dava pra arriscar. TP sem evolução há 13 horas. Bebê a -2cm da bacia há 13 horas. Não podíamos mais ligar a ocitocina. A bebê estava ótima, mas agora o risco era iminente. Ela poderia aspirar essa papa de mecônio a qualquer momento. Lembro-me perfeitamente de dizer à Márcia que estava tudo parecendo um pesadelo. Não era possível tanta frustração em tão pouco tempo. Fui levada então para o Centro Cirurgico. Márcia, Kátia e Priscila comigo o tempo TODO. Cada procedimento que era feito em mim na preparação para a cirurgia me era explicado pela Márcia. Depois que me prepararam chamaram o Rodrigo. Ele ficou de mãos dadas comigo a cesárea inteira. E, segurando minha outra mão, estava a Márcia. Eu só chorava. Não queria estar ali, foi muita frustração junta: não conseguir o domiciliar, ter que tomar a decisão de ir para o hospital e ainda por cima encarar uma cesárea. 
Pezinhos da Catarina no braço do papai
Enfim, começou a cirurgia. Rapidíssima. O médico começou um pouco antes da pediatra chegar e teve que esperar para cortar a última camada, pois exigimos que a pediatra fosse a Dra. Sandra. Assim que ela entrou na sala ele cortou a última camada e retiraram a nenê, que não chorou imediatamente, mas nesse segundo a Márcia me assegurou que ela estava ótima. Escutei a Dra. Sandra dizer: “Não é nada, ela só está sujinha”. E tive certeza de que se fosse o plantonista ia levá-la para a UTI, por causa do mecônio. Após alguns segundos ela chorou e a Dra. Sandra passou a bebê por baixo do campo e colocou em meu colo. Pude tocá-la e ficar com ela por alguns momentos. Depois ela levou a bebê para limpá-la e enrolá-la para que não perdesse calor. Carimbaram os pezinhos dela e com a tinta que sobrou carimbaram o braço do Rodrigo com os pezinhos dela. Logo depois ela estava em meu colo tentando mamar. E em meu colo ficou por mais de uma hora. Seu apgar? 9 e 10. Eu não fui para a recuperação, fiquei ali mesmo, com minha bebê, meu marido, minhas parteiras, minha doula e a pediatra. A equipe dos meus sonhos, perfeita, coesa, que eu escolhi com tanto cuidado, que me acompanharia em casa e não saiu do meu lado no hospital. Não esquecerei o abraço emocionado da Pri, que teve que ir embora antes de Márcia e Kátia. Vieram então levar a bebê para o berçário central, procedimento padrão do São Luís. Fui então levada para o quarto e logo a bebê chegou e a meu lado ficou até o dia de minha saída. Logo que subi vieram Márcia e Kátia se despedir depois de um trabalho tão árduo. Foram 36 horas em trabalho de parto. Todo este tempo amparada pela equipe mais incrível que eu poderia ter. E foi a confiança nesta equipe e no meu marido que me fez ter forças para lidar com toda a situação inesperada que aconteceu. Estar cercada de amigos e não apenas de profissionais foi essencial. Porque foi isso que elas se tornaram ao longo da minha gestação. Pessoas em quem eu confiei e confio 100%. AMIGAS, com todas as letras maiúsculas.
Bebê voltou pro colo após pesagem
Numa das visitas, Dra. Sandra nos mostrou que Catarina havia nascido com o freio da língua curto, o que poderia se resolver sozinho ou necessitar de um pequeno corte, teríamos que esperar mais um pouco para ver. Tive um problema adicional, pois a anestesista errou o lugar para aplicar a peridural e houve vazamento de líquor, o que me deixou com uma pressão e dor terrível na cabeça no dia seguinte ao parto. Foi necessário fazer um procedimento chamado “blood patch”, que é um tamponamento do vazamento com o próprio sangue da paciente. Melhorei, mas não completamente. Na segunda não estava muito bem, deixamos a alta para terça. E na terça-feira, quando o médico veio cedinho me dar alta, eu estava novamente com a tal pressão e dor, mais forte do que antes. Suspenderam a alta. Recebi visita dos três anestesistas da equipe, que finalmente me explicaram o que havia acontecido e decidiram que seria necessário fazer um novo “blood patch” na quarta-feira de manhã. Fui para o procedimento em jejum, e desta vez o anestesista chefe da equipe havia conseguido uma agulha de menor calibre e o procedimento finalmente foi um sucesso. A pressão melhorou, mas demorou alguns dias para sumir completamente. Saí do hospital no período da tarde, depois de 5 dias, tomando corticoide, antibiótico, antiinflamatório, relaxante muscular, enfim, tudo o que é remédio que se pode imaginar. E amamentando. Meu leite demorou mais uns 2 dias para descer completamente. E quando chegamos na consulta de 7 dias da bebê, ela havia perdido mais de 10% do seu peso e continuava perdendo. Fomos orientados a entrar com complemento para que não corrêssemos o risco de desidratação ou desnutrição. Foi um baque. Logo eu, que fazia questão de amamentar exclusivamente. Na verdade foi MAIS UMA frustração. 
Catarina, mamãe e papai
Aos 27 anos operei um câncer na mama esquerda. Isto atrapalhou muito a produção nesta mama e Catarina ficou com um peito só para suprir suas necessidades. Mas é suficiente, o problema é que eu estava tomando por 10 dias remédios fortes, que me atrapalharam muito. Ela sugava, mas havia pouco leite. Ela chorava de fome e nem imaginávamos que pudesse ser isso. Como disse meu marido, nem tudo é como a gente imagina. O problema é quando NADA sai como você imagina. Iniciamos com o complemento através do relactador, 240ml/dia, fracionados em 8 mamadas. Tive o acompanhamento da Márcia em todo este período de pós parto, além das visitas que ela, Pri e Kátia me fizeram. Graças a esse acompanhamento,  Márcia descobriu que a nenê estava com sapinho (candidíase) e meu peito também. Tive que dar de mamar muitas vezes com a sonda no meu dedo mínimo, pois meu peito estava em petição de miséria. E eu não tinha a opção de dar o lado menos atingido, pois só tinha um lado para oferecer. Além disso, havia o problema do freio curto da língua. 
Sempre com a mamãe
Fizemos uma consulta com uma fonoaudióloga especialista em “pega” de bebês, indicada pela Márcia. Ela indicou a frenectomia, pois o caso de Catarina não se resolveria sozinho. Quando ela estava com 26 dias fizemos a primeira frenectomia. Não foi suficiente. Melhorou, mas era necessário cortar um pouco mais. Uma semana depois fizemos a segunda e última. E muitos exercícios para melhorar o movimento da língua e a pega dela. E melhorou. A candidíase só melhorou com medicamento via oral. Aos poucos tudo foi se corrigindo e ela foi ganhando peso. Ao final do primeiro mês retiramos o complemento.  O segundo mês foi de amamentação exclusiva. Ela ganhou 14 g por dia. Não era muito, estava um pouco abaixo da média, mas cada criança reage de um jeito, então a pediatra disse que podíamos seguir com a amamentação exclusiva. Ao final do terceiro mes, ela estava engordando 7,5g por dia. Era muito pouco. Ela estava crescendo a um ritmo vertiginoso, cerca de 5 cm/mês. E o crescimento ósseo gasta muita energia, e, no caso dela, impediu o ganho de peso ideal. Resultado: tivemos que entrar novamente com complemento, desta vez com apenas 180ml/dia. Ainda por cima fui diagnosticada com fenômeno de Raynaud, que provoca uma dor parecida com a da candidíase. E agora ela segue engordando bem, e eu estou fazendo tudo o que posso para aumentar minha produção de leite, para que haja excedente para complementar com meu próprio leite ao invés do L.A. Catarina é um bebê muito saudável, além de calma, risonha e comunicativa. Com certeza a forma com que foi tratada ao nascer influenciou muito nisto. Não teve colírio de nitrato de prata, a vitamina K foi via oral e ela teve que fazer apenas uma delicada aspiração oral por ter ingerido mecônio. Dra Sandra foi rápida e carinhosa nos procedimentos e foi quem deu o primeiro banho em Catarina, 2 dias depois do nascimento, no baldinho.Tudo isto me faz perceber que realmente não temos controle sobre nada. Na verdade, é importantíssimo estar consciente de que as coisas podem não sair como planejamos, para que se tenha estrutura emocional para lidar com o inesperado. Eu sempre disse que queria parto domiciliar, mas que não seria a qualquer preço. A partir do momento que houvesse algum risco para  mim ou para a bebê eu estaria preparada para lidar com mudança de planos. Ledo engano. Eu não estava preparada emocionalmente e foi muito difícil digerir todo esse maremoto que aconteceu. Mas, agora estou fazendo o meu melhor na criação de nossa filha e tenho certeza de que ela está ótima, em absoluta conexão comigo e com meu marido. Agora eu, que era frequentadora assídua dos encontros de gestantes, frequento o grupo de pós-parto, às sextas-feiras. É maravilhoso. As crianças interagem, as mães interagem, tiram dúvidas, se apoiam, se ajudam. Devo mais essa à Casa Moara.
Mamando na primeira hora após o nascimento
Não poderia deixar de agradecer a algumas pessoas. Em primeiro lugar, a meu amado marido, Rodrigo Vedovato, que se revelou um pai incrível e maravilhoso, e um companheiro incomparável, estando a meu lado durante todo o TP, apoiando minhas decisões e me ajudando e amparando demais no pós-parto. À Márcia Koiffman, parteira e amiga, pessoa incrível e boníssima, que me acompanhou e ajudou durante toda a gravidez, parto, pós-parto e até hoje peço ajudas e conselhos, que ela dá sem pedir nada em troca. À Priscila Colacioppo, querida demais, bruxa, fada, mágica com suas agulhas, ervas e palavras, além de suas doces mãos massageadoras e acalentadoras. À Kátia Barga, mãezona, com seu pão delicioso, seu reiki mágico e sua paciência e delicadeza. Ela me mostrou de onde vêm sua força física, afinal, haja braço para massagear alguém por mais de 27 horas. À Denize Barros, amiga querida, que veio me amparar e ajudar com suas palavras, sua massagem e seu amor. A sintonia dessa equipe criou um clima de amor e tranquilidade que foi fundamental para o bom andamento de todo o trabalho de parto. Além disso, agradeço à minha linda filha, Catarina, que enfrentou junto comigo as 36 horas de TP, numa mágica conexão de amor e paz, me mostrando que, mesmo que NADA saia como planejamos, por ela tudo vale a pena.
Agradeço enormemente à Dra. Sandra Regina de Souza, pediatra chamada em cima da hora, que permitiu que minha cesárea fosse humanizada com todas as letras, trazendo minha filha ao meu colo assim que ela deixou meu ventre e cuidando dela com todo o carinho do mundo. Agradeço à Dra. Nina (Honorina de Almeida), pediatra que conheci nos encontros de gestantes e que muito me ajudou com as dificuldades e dúvidas sobre amamentação que tive antes de ter a bebê e depois do nascimento. Tenho também que agradecer às queridas doulas da Casa Moara, Drika Cerqueira, Marcelly Ribeiro, Priscila Cavalcanti e Marília Reiter, que me passaram muitos conhecimentos nos encontros e muito amor do lado de fora da sala. E também agradeço demais ao Dr. Jorge Kuhn, que, além de me ensinar muito e apoiar a minha escolha, tirando minhas dúvidas sem mesmo que eu fosse sua paciente, gentilmente me emprestou o epi-no no final da minha gestação, gesto de carinho, confiança e generosidade que agradeço muito.
Enfim, tenho que dizer que se resolvermos ter outro filho, farei as mesmas escolhas. Parto domiciliar, sim. Com parteiras, sim. Frequentar encontros de gestantes, sim. A diferença é que agora estruturarei melhor meu plano B. Se ele não se fizer necessário, ótimo. Mas se precisarmos vou ficar muito mais tranquila sabendo que planejamos o melhor, sem ter que me preocupar com quem vamos chamar nesta hora tão difícil de tomar decisões.